Inovar na indústria nem sempre é uma tarefa fácil. Quando se fala em inovação no mundo corporativo, não se trata apenas de ter uma boa ideia, mas de conseguir viabilizá-la, colocá-la em prática para que agregue valor a um produto ou serviço.
A indústria precisa, mais do que nunca, inovar. Um estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) constatou que 83% das indústrias precisarão inovar para crescer – ou mesmo sobreviver – no mundo pós-pandemia.
O Gartner traz dados ainda mais alarmantes: segundo eles, 93% das empresas ficam estagnadas quando atingem um ápice produtivo, e não conseguem inovar nem crescer. Sem inovação, 68% do valor das organizações é comprometido.
Inovar nem sempre é fácil, especialmente quando as próprias empresas não dão espaço para inovações. Ainda segundo o Gartner, 80% dos líderes de P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) sofrem pressão para abandonarem projetos inovadores e poderem se dedicar a prioridades mais imediatas.
O que nem todo mundo se dá conta é que a inovação não precisa, necessariamente, ser disruptiva.
Na verdade, quando o assunto é indústria, existem dois principais tipos de inovação, com características bem diferentes: temos a inovação incremental e a inovação radical.
Saber a diferença entre elas é fundamental justamente para você entender qual melhor se aplica ao seu negócio. Então, vamos conhecer melhor cada uma delas.
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O que é inovação incremental?
A inovação incremental é aquela que tem como objetivo melhorar ou agregar valor aos processos e produtos já existentes. Ou seja, a indústria não criará algo totalmente novo, mas sim melhorará algo que já existe.
Este tipo de inovação pode ser aplicado de maneira modular, em determinados setores ou processos. Por exemplo, é possível aplicar a inovação incremental em uma linha de produção, com o intuito de torná-la mais eficiente. Ou, o incremento pode ser em um produto já existente, para que ele ganhe novos recursos ou funcionalidades.
Na inovação incremental, não há disrupção: a indústria não precisa parar tudo o que está fazendo, podendo encontrar maneiras de incrementar um processo aqui, outro ali, conforme a necessidade. Falo mais sobre isso no papo que bati com o pessoal do Ietec (Instituto de Educação Tecnológica) sobre a reinvenção digital da indústria. Fica o convite para quem quiser assistir:
Isso faz com que a inovação incremental seja muito mais comum do que a inovação radical. Por ser gradual, ela é mais fácil de ser colocada em prática. Seu impacto (seja nos processos, nos lucros, na participação de mercado) também pode ser acompanhado com mais assertividade.
Um exemplo prático de inovação incremental que você provavelmente conhece está na indústria de smartphones: todos os anos, empresas como a Apple lançam um “novo modelo” que na verdade nada mais é do que uma versão melhorada do aparelho do ano anterior. O sistema operacional é atualizado com novos recursos, a câmera recebe um upgrade, o aparelho fica mais fino, mais leve…mas na prática, ainda é, essencialmente, o mesmo produto.
Que fique claro: quando passamos do telefone celular comum para o smartphone, foi um salto evolutivo enorme – uma inovação radical, capitaneada por empresas como a Apple. Porém, agora que os produtos já estão consolidados no mercado, o que acontece anualmente é um ciclo de inovação incremental, um update.
O iPhone foi ficando maior, mais fino e mais moderno com o passar do tempo. Fonte da Imagem: Canal TheAgusCTS
E a inovação radical?
Segundo um artigo da Revista de Administração de Empresas publicado pela Scielo (Biblioteca Eletrônica Científica Online), a inovação radical corresponde a “um produto, processo ou serviço que apresenta características de desempenho sem precedentes”, algo totalmente disruptivo que seja capaz de “transformar os mercados existentes ou criar novos mercados”.
Este tipo de inovação normalmente demanda um investimento muito grande de tempo, dinheiro e preparação para ser colocado em prática. O risco é enorme, afinal, quando uma empresa decide inovar radicalmente, ela está saindo da sua zona de conforto, abrindo mão de algo que já conhece para se lançar em mares ainda não explorados.
Ao contrário da inovação incremental, que se baseia em aprimoramentos pontuais, a inovação radical é caracterizada pela ruptura completa de processos existentes. As velhas formas de pensar e produzir são abandonadas, para dar lugar a novos processos.
Embora a inovação radical seja menos frequente, ela é capaz de “sacudir o mercado” de forma que a inovação incremental jamais conseguiria.
Através dela, criam-se tendências e novos nichos de mercado que alteram a forma como as pessoas consomem determinados produtos e serviços.
Nestes tempos de startups e unicórnios que estamos vivendo, pudemos ver bons exemplos de novos modelos de negócios que foram criados por processos de inovação radical. A Netflix, por exemplo, era um serviço de filmes em DVD (algo já um pouco diferente das locadoras tradicionais) que se tornou uma gigante do streaming.
O mais interessante nessa história é que a Blockbuster poderia ter comprado a Netflix lá nos anos 2000 por uma “pechincha” (U$S 50 milhões), mas o então CEO da locadora, John Antioco, considerou aquilo uma piada. Ele deve se arrepender até hoje da sua falta de visão – Fonte da Imagem: Troposlab
Uber e AirBnb são outros exemplos de startups disruptivas, que apostaram em inovação radical para alterar drasticamente o status quo de seus respectivos mercados. A mobilidade urbana e o mercado imobiliário não são mais os mesmos – e diversas concorrentes surgiram para explorar este novo mercado.
Inovação incremental ou inovação radical: qual escolher?
As diferenças mais significativas entre a inovação incremental e a inovação radical já ficaram claras, não é? Existem outros contrastes entre elas, que estão listados na imagem abaixo – como prazo, custo e retorno, entre outros. Tudo isso deve ser levado em conta na hora de decidir qual tipo de inovação faz mais sentido para o seu negócio:
Diferenças entre inovação incremental e inovação radical – Fonte da Imagem: Troposlab
Percebe como há grandes diferenças entre os dois formatos? A inovação incremental visa manter os clientes que uma empresa já tem, demanda menos investimento de tempo e dinheiro e oferece menos riscos, além de ter um retorno mais fácil de mensurar. Seu propósito é melhorar, agregar valor a um produto ou serviço que já existe.
Minha dica de leitura para sua semana.
Livro “IoT – Como usar a Internet das Coisas” – Fonte da Imagem: Acervo Pessoal Carlos Boechat
Já a inovação radical é mais indicada para quem busca novos clientes ou quer explorar um novo mercado. Mais tempo e dinheiro devem ser investidos e o risco é maior, bem como a previsibilidade do retorno. O intuito aqui não é melhorar algo que já existe, mas criar algo novo, diferente.
Agora que entendeu as diferenças entre inovação incremental e inovação radical, já sabe qual delas é a mais adequada para o seu negócio?