Pensar e definir estratégias inovadoras para um futuro com mais crescimento e sucesso ao mesmo tempo em que se pensa em ações que mantenham a segurança e eficiência operacional no presente é um desafio e tanto, principalmente para os líderes e organizações que ainda não estão preparados para lidar com essa ambidestria.
A palavra “ambidestria” tem sido falada com maior frequência nos últimos anos, pois o mercado tem aberto os olhos para os benefícios que uma “empresa ambidestra” e “liderança ambidestra” podem gerar nos negócios. Porém, a vantagem de construir e manter uma organização baseada nesse princípio já havia sido identificada nos anos 2000. Na época, um estudo publicado na Harvard Business Review revelou que 90% das empresas que tinham a ambidestria como base conseguiram atingir os objetivos de lançamento de serviços ou produtos inovadores. Mas se lá atrás já tínhamos exemplos de negócios que tiveram destaque no mercado, conseguindo lucrar, manter a eficiência e inovar ao mesmo tempo, por que só agora esse conceito voltou a ter destaque e ser priorizado?
Desafios
Um dos principais motivos para não termos atualmente um número maior de empresas e lideranças ambidestras é a falta de conhecimento e habilidade para lidar com o conflito de prioridades entre eficiência no curto prazo e os diferentes tipos de inovação de curto a longo prazo. Para entrar para o grupo da ambidestria, ao mesmo tempo que é necessário que a organização lide com as demandas diárias, focando na entrega e eficiência operacional, para manter a segurança do negócio, ela também precisa desenvolver agregar inovação no dia-a-dia e investir em estratégias inovadoras que terão resultado no futuro.
Esse processo acaba sendo mais difícil do que parece, já que dentro das próprias empresas a ação de inovar pode ser vista de diferentes maneiras. Há quem seja a favor, compreendendo a importância e benefícios, mas também há quem seja contra pois enxergam a inovação como algo arriscado ou mesmo que desfoque os processos atuais. Quando há essa divisão de opiniões entre profissionais da mesma organização, significa que a cultura interna não foi ou está mal orientada, e que a estrutura da empresa não foca na flexibilidade da coexistência dos dois cenários.
Deixar de investir no cenário da inovação pode custar caro ou mesmo a falência do negócio. Até hoje, diversas empresas nacionais e internacionais quebraram por não terem buscado novas estratégias e ferramentas para inovar. Algumas delas:
- Kodak – inovou ao criar a primeira câmera digital do mundo, mas optou por continuar investindo nas analógicas, ignorando a revolução digital;
- Blockbuster – uma das principais redes de locadoras de vídeo do mundo que perdeu espaço ao não acreditar no crescimento do consumo de vídeo por streaming;
- Nokia – uma das principais fabricantes mundiais de celulares que foi perdendo a posição de uma das líderes do mercado ao não investir em um novo sistema operacional nos aparelhos.
Mas também de nada adianta querer inovar e tornar a estrutura flexível se os executivos, gestores e equipes não tiverem a mesma mentalidade e desenvolverem a habilidade da ambidestria. A Foundry (an UDG, Inc. company) realizou um estudo com C-Levels e identificou que encontrar um bom balanço entre eficiência e inovação é um grande desafio para 75% dos participantes.
Além do conflito de prioridades, falta de profissionais ambidestros e resistência à mudança, há ainda o fator falta de recursos em algumas empresas. Com todos esses obstáculos, e outros que ainda podem surgir no meio do caminho, pode-se pensar que o esforço de buscar a transformação não valha tanto a pena em relação aos resultados possíveis de serem obtidos. Será mesmo?
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Benefícios de uma empresa e liderança ambidestra
Quando o básico é bem feito dentro das empresas, a qualidade dos produtos e/ou serviços, a eficiência das operações, a satisfação dos clientes e colaboradores, e o sucesso no mercado têm muito mais chances de acontecer. Se a empresa possui líderes ambidestros que tenham consciência de seus papéis dentro da organização e de que possuem a responsabilidade de fomentar a cultura de inovação conciliada à execução, esses são alguns dos benefícios que ela pode ter:
- Crescimento equilibrado;
- Maior competitividade no mercado;
- Resiliência dos profissionais;
- Novas oportunidades de negócios;
- Maior engajamento entre colaboradores e setores da empresa;
- Novos acessos à tecnologia nas operações;
- Entre outros.
Buscar a inovação para otimizar e melhorar processos, produtos e servicos não é apenas olhar e ter resultados somente a longo prazo. A ambidestria dentro das empresas, quando incorporada por todos os setores e profissionais, também auxilia nos objetivos de eficiência operacional, controle de custos e desempenho no curto prazo. Uma pesquisa realizada pela Deloitte com executivos no Brasil mostrou que 92% deles acreditam que a melhor forma para gerenciar conflitos e garantir resultados a curto prazo é a capacidade de equilibrar a eficiência operacional e a exploração de novas abordagens.
Empresas que já adotaram a ambidestria
A ambidestria requer inovação, adaptação, capacidade de lidar com incertezas e contradições, e assumir riscos estratégicos. O mercado já tem exemplos de empresas que passaram a adotar o conceito e tiveram grande crescimento e sucesso.
- Google: muito conhecida por seu foco em inovação disruptiva, por investir em projetos experimentais e de longo prazo, e por manter o investimento na qualidade dos seus produtos base (motor de busca, YouTube e sistema Android);
- 3M: além do investimento nos processos e operações diárias, a empresa ainda incentiva os colaboradores a dedicar uma parte do tempo de trabalho para o desenvolvimento de novas ideias e projetos;
- Tesla: mantém o foco na excelência operacional, buscando constante melhoria e redução de custos, ao mesmo tempo que possui uma abordagem inovadora na indústria automotiva e de energia;
- iFood: em um período de 10 anos, passou de 10 a 6 mil colaboradores a partir de uma estrutura e cultura ambidestra. Com muita disciplina para execução do serviço principal, processando hoje quase 90 milhões de pedidos por mês, a empresa ainda investe em outras dezenas de startups internas;
- Microsoft: continua melhorando seus produtos e serviços tradicionais, como o Windows e Pacote Office, enquanto se reinventa e investe em computação em nuvem, inteligência artificial e realidade aumentada.
Como avaliar o sucesso da ambidestria
Líderes ambidestros sabem manter a excelência operacional, promover a cultura da inovação e, ainda, sabem medir as métricas da ambidestria. Sem essa avaliação não é possível ter visão do progresso da empresa e dados concretos em relação às tomadas de decisão, o que, consequentemente, prejudica o alinhamento das ações entre as equipes e a motivação da empresa como um todo em continuar lidando com a execução e inovação ao mesmo tempo.
O “como” avaliar os resultados da ambidestria vai depender dos objetivos de cada empresa, do tempo na jornada de investimento na inovação e das métricas por elas selecionadas. A depender do caso, existem sim métricas muito específicas, mas, na maioria das empresas, essas são as mais comuns:
- Métricas de Inovação: número de novas ideias geradas, número de projetos de inovação iniciados, percentual de projetos com sucesso, número de patentes registradas, tempo médio para o lançamento do novo produto ou serviço, retorno sobre o investimento (ROI) no projeto;
- Métricas de Eficiência: qualidade, custo, produtividade, capacidade produtiva, tempo de ciclo, satisfação do cliente.
A partir desses dados é possível chegar e avaliar outras informações importantes como a alocação de recursos em projetos de execução e inovação, no tempo dedicado a ambos, no número de colaboradores envolvidos em cada um deles e no nível de ambidestria da empresa.
Saber lidar com a excelência operacional e os diferentes tipos de inovação é fundamental para que uma empresa garanta não apenas a sua sobrevivência, mas também seu crescimento e nível de competitividade que gere destaque no mercado.