Muitas empresas se frustram após não obterem os resultados esperados por meio da transformação digital e Indústria 4.0. E um desses motivos é justamente o fato de elas terem partido direto para a tecnologia e não terem analisado um ponto fundamental: o problema do negócio.
Um estudo feito pela Accenture com mais de 600 indústrias ao redor do mundo trouxe um dado muito interessante: 39% das indústrias que estão em uma fase de projetos pilotos de transformação digital ainda não conseguiram dar essa escalabilidade para o projeto.
Neste bate-papo com Paulo Roberto Bertaglia, proseamos sobre os quatro principais pilares da transformação digital e a importância de cada um deles para que os projetos deixem de ser pilotos e comecem a alcançar resultados impactantes para as estratégias de cada organização.
Saiba mais sobre este tema na conversa completa abaixo:
Paulo Roberto Bertaglia: O assunto de hoje é a transformação digital da manufatura e operação. Como sair do conceito à prática? Temos tratado o tema de transformação digital e Indústria 4.0, com certa ênfase aqui na Prosa com Bertaglia. Nosso objetivo é trazer mais clareza ao assunto, pois muita coisa tem sido falada, porém, estes conceitos trazem dúvidas para muitas pessoas, estejam elas nas empresas ou fora delas. Para aqueles que possuem uma visão e conhecimento satisfatório sobre o assunto, resta o desafio de colocá-lo em prática. Uma tarefa desafiante. Como trazer essa transformação digital para o negócio? É sobre isso que iremos refletir e eu terei o privilégio de trazer para prosear comigo o amigo Carlos Eduardo Boechat.
Carlos Boechat: Olá Bertaglia! Olá a todo mundo que está aqui nos acompanhando, é uma satisfação muito grande estar aqui justamente falando de um tema que sou apaixonado, que é a transformação digital das manufaturas e operações, e Indústria 4.0 pois já atuo com esses temas há aproximadamente oito anos.
Bertaglia: É um tema fantástico, muito atual. Sempre que surge esse tema por aqui o pessoal fica apaixonado. Vamos em frente e contextualiza um pouquinho para a gente essa história de transformação digital e Indústria 4.0, Boechat.
Carlos Boechat: Vamos lá. Já tem alguns anos que a gente vive a quarta revolução industrial, que se iniciou há, aproximadamente, mais de uma década na Alemanha, envolvendo o governo alemão e algumas organizações, algumas empresas, grandes instituições. A transformação digital, ela também vem já nesses últimos anos sob alguns pilares: o de tecnologia, sob o pilar de processos, de pessoas e de modelos de negócio. Então, cada vez mais a gente vê presente nas organizações programas e projetos envolvendo transformação digital na indústria e também as jornadas de Indústria 4.0. Obviamente que isso, na primeira instância, a gente via mais fora do Brasil e agora já passa a ser uma realidade. A gente vê cases interessantes também de empresas brasileiras.
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Bertaglia: Que bacana, que maravilha! É importante isso que você está falando, porque embora as pessoas tenham dúvidas, muitas empresas estão embarcando nesse assunto e de certa forma, utilizando a tecnologia como elemento importantíssimo nessa jornada, esse caminhar do mundo 4.0, da transformação digital. Eu gostaria de explorar um pouquinho mais esse assunto e principalmente, Boechat, o lado da perspectiva de pensar, repensar os negócios, ou seja, nem sempre apenas aplicar a tecnologia é o melhor caminho, nós temos que ser seletivos. O que que você pensa sobre isso?
Carlos Boechat: É um ótimo ponto que você levantou. Tem uma frustração grande de algumas empresas e algumas pessoas de não terem conseguido obter resultados através da transformação digital, Indústria 4.0. E um dos motivos é justamente o fato de terem partido da tecnologia em vez do problema de negócio. Esse é um equívoco muito comum, é uma armadilha que muitas empresas acabam caindo nisso. E é normal, porque se existe um encantamento pela tecnologia e a pessoa fica preocupada “Onde é que eu vou colocar o robô colaborativo?”, “Onde que vou colocar IoT?”, “Como colocar inteligência artificial?”. E na verdade, não deveria ser assim, o caminho é:
- Quais são os problemas de negócio que eu tenho?
- Como isso está alinhado com a estratégia da minha organização?
- O que que eu preciso fazer para ser mais produtivo, para reduzir meus custos de manutenção, para melhorar a qualidade do meu produto, para ter uma economia de energia?
A partir daí ver qual a combinação de tecnologia que vai resolver esse problema de negócio. Então, essa é uma primeira recomendação que eu daria e, sem dúvida, é uma armadilha que inclusive já cheguei a ouvir de alguns CEOs e alguns outros executivos, C-level, assim: “Boechat, eu não aguento mais fazer pilotos sem gerar resultado. Eu quero um projeto transformacional que vai impactar minha organização. Eu estou sedento por produtividade, por eficiência, por aumento da capacidade produtiva. Vou ficar para trás. Preciso evoluir nisso pela questão de competitividade da minha empresa”.
Então, acho que aqui fica uma das lições: a gente poder reavaliar e repensar quando formos discutir uma jornada de indústria 4.0 e de transformação digital.
Bertaglia: Fantástico isso que você trouxe Boechat, até porque temos trazido aqui no Canal algumas perspectivas voltadas para o mundo 4.0, Indústria 4.0. Onde é que nós vamos trazer benefícios para a organização? Logicamente, começa com um piloto, mas antes do piloto você olha a perspectiva de que tipo de benefício poderia ser gerado.
E você falou de um outro ponto: a liderança. Ela tem que pensar no negócio e pensar digitalmente. Como é que você encaixa esse quebra cabeça? Precisa ter uma visão tecnológica, não necessariamente sua, mas de alguém que eventualmente tenha respaldo e lhe suporte, porque as dores você conhece agora…como é que resolvo essas dores?
Gostaria de explorar um pouco mais esse lado contigo, principalmente pela perspectiva da liderança digital, como ela deve estar preparada, e já em seguida você comentar um pouco sobre o papel das pessoas nesse processo todo, porque nós somos digitais, mas não só de WhatsApp.
Carlos Boechat: É verdade, acho que tem várias pesquisas, fiz, inclusive, uma delas no LinkedIn, sobre os principais fatores que dificultam essa escalabilidade digital nas indústrias. Um deles, que sempre aparece, é a questão do mindset da liderança. Como atuar nesse sentido para ter um uma nova maneira de pensar, uma visão mais ampla, como pensar em algo mais transformacional, como que a gente assume esse protagonismo nessa transformação das indústrias.
Então, isso é uma agenda fundamental. Não dá para terceirizar e falar assim “Eu vou ser coadjuvante nesse processo”. Não, você tem que assumir o papel de protagonista e de condutor dessa transformação. E, é claro, uma coisa que eu sempre comento na transformação digital é que a gente tem vários pilares, mas o pilar de pessoas, ele é crucial e fundamental. Você pode ter os melhores hardwares, softwares, plataformas do mundo. Se você não tiver um time engajado e capacitado, de nada vai adiantar. Precisa colocar os colaboradores como o centro dessa transformação digital, porque toda transformação digital também é uma transformação cultural.
Muitas vezes as empresas não se atentam a essa questão de cultura, de organização, de governança, e isso é fundamental para o sucesso dessa jornada.
Bertaglia: Que bacana! Legal esse ponto porque na realidade as pessoas acabam sendo os pilares importantes desse processo todo e é importante também mencionar, eu fiz uma prosa recentemente, onde as pessoas sempre colocam, os líderes sempre colocam os talentos, as pessoas como ativos super importantes. E essa pessoa fez o seguinte comentário: Se você estiver em uma reunião onde está discutindo a organização, verifique quanto tempo se fala de pessoas, quanto tempo se fala de processos e quanto tempo se fala de parte financeira. Ou seja, o que se fala de pessoas ainda é o mínimo. Nós temos que realmente olhar por essa perspectiva.
Eu gostaria que nessa conexão ainda das ferramentas, você falasse um pouco da sua perspectiva e a sua visão de como está o Brasil, Boechat, porque muitas vezes nós pensamos muito mais no aspecto econômico, político e social: “Ah, o governo não desenvolveu um roadmap como fez a China ou como fez os Estados Unidos, o México”. A gente aqui até ensaiou um roadmap para a Indústria 4.0, mas nós não precisamos esperar o governo. Você concorda comigo?
Carlos Boechat: Concordo. Eu acredito que a gente tem que de fato evoluir com essa agenda, independente de qualquer situação do governo. É óbvio que tendo fomentos, tendo linhas de fomento com relação à inovação, o governo apoiando, sem dúvida nenhuma, vai ajudar muito, especialmente as pequenas e médias empresas. Isso é fundamental e existem algumas linhas, por exemplo o Finep, o Rota 2030, o próprio Senai faz um trabalho interessante.
Então você tem algumas instituições, associações, enfim, que acabam auxiliando também essas pequenas e médias indústrias. Nós, como executivos ou como empreendedores dentro da indústria, a gente tem que entender que não dá para ficar esperando o que o governo vai fazer, aguardar a criação de um programa, de uma política. Tenho que analisar e ver como penso de uma maneira criativa, que consiga ter uma estratégia muito bem definida, onde eu consiga trazer alguns resultados no curto prazo e montar essa visão minha de longo prazo.
Então essa ambidestria de como que eu consigo olhar e atuar no curto prazo e também no longo prazo, isso é fundamental para qualquer executivo que atua hoje em uma indústria.
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Bertaglia: Você tocou em um ponto que me fez refletir e pensar aqui. Hoje nós temos a existência de muitos empreendedores, as famosas startups, onde o pessoal de alguma maneira vem trazendo algumas soluções interessantes. Logicamente, algumas soluções ainda são muito embrionárias, na fase da geração de ideias e muitas vezes também não pensando nas dores das organizações. Mas existem aquelas startups mais consistentes e inclusive mentora algumas delas, onde elas pensam nos problemas e como resolver esses problemas. Mas, meu amigo Boechat, como é que eu crio valor para a organização e aloco o recurso adequado?
Você já mencionou, de certa forma, lá no começo, falando das dores e a busca da solução. O grande ponto aqui é: será que conheço as minhas dores? E será que conheço as soluções de mercado? Vamos navegar nisso?
Carlos Boechat: Vamos, vamos sim. Acho que o primeiro ponto de tudo é você ter uma estratégia bem definida. Quem não tem um plano, não tem estratégia, não tem nada. Então, esse seria um primeiro caminho que sempre recomendo, não só eu, mas a Accenture em si, que a empresa que hoje eu sou Diretor Associado na área de Industry X, que atua com a transformação digital das manufaturas e operações, a gente sempre recomenda. Então você ter esse plano, ter esse roadmap, no primeiro momento, o que que deve interessar? Justamente entender quais são esses desafios, quais são essas dores, como que isso está alinhado com a estratégia da organização, com os pilares.
Por exemplo, tem organização que deixa muito claro um pilar de qualidade, um pilar, hoje em dia, de sustentabilidade. ESG nunca esteve tão forte quanto agora. Inclusive, ESG é um dos tópicos que a gente tem discutido como uma próxima revolução industrial. Ela vem com esse pilar muito forte. Quando a gente olha primeiro para esses desafios, entende o nível de maturidade que se encontra cada uma das suas fábricas, a partir daí você consegue pensar no segundo step que é: como é que eu consigo classificar e priorizar isso?
É fundamental você partir de números, analisar os dados, as informações financeiras, onde que de fato tem possibilidade de ganhos de produtividade, de eficiência, redução de custo de manutenção, redução do consumo de energia, melhoria da qualidade do produto, aumento da capacidade produtiva, enfim, a partir disso, você analisando e com uma lupa muito forte nessa parte, a gente vê que tem uma grande parte para endereçar ali nas manufaturas e operações, e a gente consegue ver qual a combinação de tecnologia vai resolver aquele problema de negócio.
Então, imagina que você tenha alguma solução que envolve IoT, com cloud, inteligência artificial e 5G para endereçar um problema. “Ah Boechat, me dá um exemplo disso”. O caso que a gente fez no final de 2021, o primeiro projeto de 5G no Brasil, envolvendo a Stellantis, Accenture e a TIM, o qual tive a oportunidade de liderar, onde nós implementamos o primeiro projeto piloto de 5G, inclusive para a indústria automotiva, no mundo. Era um caso voltado para a qualidade do produto, qualidade dos chassis do veículo e a solução disso passou por essa combinação de tecnologia que eu falei.
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É um exemplo prático e claro que a gente acabou implementando. Então, como que eu olho para essa combinação de tecnologia e a partir daí, como olhei para a questão dos números, eu já começo a ter uma ideia do que tem de solução, analiso todo o ecossistema, que tem de provedores de plataforma, de nuvem, de software, de hardware, ecossistema de startups, enfim, e aí eu consigo ver como que de fato isso vai mexer com o tempo da organização. E no terceiro step, já crio esse roadmap pensando no horizonte de curto, médio e longo prazo, crio essa jornada para poder falar assim “Tá bom, tenho uma combinação de projetos de curto prazo que vai me dar um payback e um ROI de tanto, com isso eu tenho um saving que vai ajudar a subsidiar uma próxima fase e por aí vai. E eu construo isso, essa visão de futuro.
Claro, você tem uma série de tópicos aí no meio do caminho que acabei não comentando: arquitetura de sistema, convergência IT/OT, como é que eu analiso essa integração vertical do ERP até o chão de fábrica, integração horizontal da área de pesquisa e movimento, passando pela manufatura, até marketing e vendas, tudo isso acaba sendo analisado, mas o fato é: quando eu chego no final dessas três etapas, onde você tem um roadmap já bem estabelecido, já tem uma estratégia montada, um plano. Você já começa a entrar na fase de implementações e aí você mexe o ponteiro da organização. Começa a impactar no seu Ebitda e aí torna sua empresa mais competitiva.
Bertaglia: Fantástico. Você trouxe alguns pontos extremamente importantes. E o que chamou a atenção, inclusive, é olhar um pouco pelo lado da tecnologia e das capacidades tecnológicas que eu tenho dentro da organização. Você usou uma palavra mágica, Boechat: maturidade. Olhar qual é a maturidade em que a minha empresa, independentemente do tamanho em que ela se encontra no momento, se é pequena, média ou grande, mas qual é o estágio da minha capacidade tecnológica para eu saber o quanto vou precisar evoluir nesse meu roadmap. E aí me chama a atenção uma outra questão que eu gostaria de trazer. Você mencionou que a empresa que trabalha, onde é Diretor Associado, a Accenture, e hoje a gente consegue ver no Brasil empresas, um ecossistema de organizações, que têm uma orientação grande e que podem, que entendem e compreendem, conseguem ajudar os clientes tanto do ponto de vista de identificar quais são as dores, como do ponto de vista de prover a solução ou remédio, receitar o remédio para ele. Como é que você enxerga isso? Logicamente, você está dentro de uma organização que faz isso, mas a sua empresa, ela demanda mais integração no ecossistema. Então você está falando de processo, de conhecimento, de software, de hardware. E aí vem o lado da automação. Você citou o 5G, a conexão, porque tudo isso precisa estar funcionando adequadamente e de forma integrada. Quer comentar um pouco sobre isso?
Carlos Boechat: Só recapitulando quando falei de maturidade, você trouxe um ponto fundamental, que não é só tecnologia, são processos também. Toda vez que a gente vai inserir uma plataforma, alguma solução ou algum software, algo do tipo, você também traz ali um componente que é de revisão de processos. Então isso também é fundamental. Agora, trazendo para esse tópico que você levantou, esse ecossistema, ele é complexo. Então, se por um lado você tem as indústrias, você tem também as organizações, associações, onde têm as próprias linhas de fomento. Citei aqui a questão do Finep, você também tem um ecossistema, que eu diria, de provedores de hardware e de software. Quando comecei minha carreira, comecei na Siemens, depois quando fui empreender, fui montar minhas empresas junto com outros colegas, acabou sendo um grupo ali com três empresas e uma startup, onde na época tinha um foco muito grande na integração completa do que estava em termos de automação, elétrica, TI industrial, depois Indústria 4.0, convergência IT/OT, nesse caso, é um ecossistema que envolve os integradores. Você tem as empresas que fazem as integrações de sistemas e que são fundamentais também, com certeza, tanto as empresas que atuam no aspecto de TA, TI industrial ou as que conseguem atuar nos dois lados.
As startups, e eu tive a minha startup também, antes de vender depois de quatro anos que a gente estava com as empresas, já com 200 funcionários, a gente acabou vendendo as empresas e aí já participando de um grupo maior. Mas eu tenho oportunidade de conversar com bastantes startups, sou mentor também, acabo sendo investidor em alguns casos, você tem uma série de startups também que envolvem esse ecossistema de Indústria 4.0, a gente faz um trabalho, inclusive, aqui na Accenture, junto com o Cubo do Itaú, agora com o FIEMG Lab, também estamos ajudando. Sou um dos avaliadores lá das startups, enfim, tem uma série de empresas que também certamente impactam positivamente as indústrias.
Agora, quando a gente estiver em um horizonte mais no aspecto de pensar em grandes transformações, em grandes indústrias, é onde eu vejo um papel da Accenture como orquestrador disso. De fato a gente consegue, ao mesmo tempo que atua nessa fase de estratégia e consultoria, a Accenture também é um grande integrador, a gente tem aqui, por exemplo, um trabalho que vai todo esse ecossistema, que vai desde a integração do ERP até o chão de fábrica e toda essa parte da integração horizontal, a gente acaba executando também, assim como a sustentação e operação.
Como a gente tem esse papel dentro da sociedade, você acaba sendo orquestrador de muita coisa. Então você tem que plugar uma ou outra startup. Você pluga ali uma associação, uma linha de fomento, você traz um provedor de nuvem, seja a AWS, Google, Microsoft, traz um fornecedor de software, de hardware. Então, no final das contas, para a gente conseguir trabalhar nessas grandes transformações nas indústrias, é preciso ter todo esse ecossistema envolvido. Claro que tem que ter isso organizado. Não dá para você chegar e fazer isso de qualquer maneira, achar que você vai conseguir orquestrar por conta própria, é complexo, tem que ter experiência, tem que ter o trato e tem que ter o foco no resultado. Muitas vezes as empresas, elas se preocupam “Ah, agora eu vou implementar esse projeto aqui” e não mensura com resultado, não cria escritório de valor de projeto, como que você consegue ter o acompanhamento. Você comentou agora há pouco sobre o caso de uma indústria que já tem vários, vários projetos pilotos implementados, mas que é o desafio que eu vejo hoje de muitas indústrias: conseguir dar escalabilidade. Como que eu consigo fazer com que esse piloto realmente escale dentro dessa fábrica e dentro das outras fábricas daquela companhia? E aí é onde muita empresa está travada, não consegue evoluir nesse sentido. Você pega, por exemplo, a Accenture fez uma pesquisa com mais de 600 indústrias ao redor do mundo e apontou o seguinte:
39% das indústrias estão em uma fase de projetos pilotos, não conseguiram dar essa escalabilidade.
Então é aí que eu vejo hoje, um ponto para poder dedicar nossa atenção para que a gente consiga, de fato, destravar isso e gerar resultados concretos e sólidos para as organizações.
Bertaglia: Que bacana e é interessante, eu estava aqui pensando, já tivemos algumas conversas aqui sobre Indústria 4.0, transformação digital, mas as visões são fantásticas e complementares. É muito legal isso. Ou seja, se nós pegamos as diferentes prosas que devem ter sido umas quatro ou cinco sobre esse assunto, elas se complementam. Elas não são diferentes, elas se complementam, então isso é muito interessante. Nós estamos no finalzinho aqui, está fantástica, tem um gostinho de quero mais e usando todo seu conhecimento, sua experiência Boechat, uma das coisas que eu gosto de deixar ao final da prosa são algumas dicas, independentemente do tamanho da empresa, que dicas você traria para aqueles líderes empresariais que gostariam de seguir adiante nesse processo todo?
Boechat: Vou dar algumas dicas para profissionais, dicas para as empresas. Acho que tem os dois lados da história. Você comentou que tem um público que trabalha na indústria mas tem o público também que envolve instituição de ensino, professores, alunos, enfim. Então, obviamente que cada pessoa e cada empresa está em algum momento. Há pessoas e empresas que já estão em uma fase já mais evoluída com relação a essa jornada de Indústria 4.0, com alguns cases, já possuem um programa bem estabelecido, assim como tem aquelas que estão conhecendo agora, então ainda entendendo melhor o que que é esse assunto e como que podem atuar nesse sentido.
Algumas dicas que eu vou dar. Primeiro no aspecto pessoal, no aspecto do indivíduo em si. Para quem nunca ouviu falar, nunca trabalhou com Indústria 4.0 e quer conhecer melhor o que é essa quarta Revolução Industrial, tem um livro que é clássico do Klaus Schwab, que é a quarta revolução industrial.
Livro A Quarta Revolução Industrial – Klaus Schwab – Fonte da Imagem: Acervo Carlos Eduardo Boechat
Ele é bastante conhecido, por ele ser o básico, ele é o conceitual, para você começar a entender o que é a Indústria 4.0, a importância disso e desmistificar algumas coisas com relação à até mesmo o impacto que isso representa na sociedade e os benefícios que ela traz para sociedade. Então, esse é um primeiro ponto.
Para as organizações, vou dar uma dica que é a seguinte: publiquei o artigo Passo a Passo para a Indústria 4.0. Então, lá eu explico cada um dos passos que deve ser dado desde o momento que você está conversando dentro da sua organização e vai buscar ali quem que é o sponsor para isso, se é o CIO, se é o VP de manufatura, o COO, o momento que você está criando esse roadmap, o momento que você está engajando o time, então, ali explico o passo a passo da Indústria 4.0.
Outro ponto que eu gosto de trazer e aí eu vou puxar um pouco de sardinha aqui para o Erick, que é um colega aqui na Accenture durante muitos anos, é um livro em inglês, mas vale muito a pena para quem tiver oportunidade, chama “Industry X.0”. Aqui ele traz uma visão que, além da Indústria 4.0, ele olha para essa transformação digital não somente da manufatura e da operação, como também da engenharia do produto e também da aplicação das tecnologias para fora das fábricas.
Você pensar em um veículo conectado, uma geladeira conectada, com que você usa IoT, analytics aplicado em um trator, em uma geladeira e em uma cafeteira. Então, abre um pouco mais o horizonte nesse sentido. Então, esse é um outro livro que eu recomendo também fortemente.
Bem para quem tiver a oportunidade de me acompanhar, praticamente todos os dias tem algum post no LinkedIn ou em alguma outra mídia. Participações em eventos tem todo mês. Só esse ano já tem mais de dez artigos. Tem um artigo que é justamente de transformação digital da manufatura da operação, como sair do conceito à prática…
Bertaglia: Que é exatamente o nosso título…
Boechat: É exatamente esse título aqui, porque é interessante, mais ou menos uns três anos atrás, eu tava lá no Cubo, no Itaú, e o pessoal na época me convidou para dar palestra para as startups e também para as indústrias ali envolvidas no Cubo e tudo mais. E o pessoal tava assim “Poxa, Boechat, a gente fala muito de transformação digital, só que toda vez que alguém vem trazer case, o pessoal fala em Uber, Netflix e começa a trazer esse tipo de case. E esse negócio está ficando um pouco batido porque poxa legal, bacana, é transformação digital, é, mas a gente quer coisa aplicada na indústria, na manufatura, no chão de fábrica, em operação. Poxa, como é que a gente começa a endereçar isso?”.
E aí, realmente eu parei para refletir, naquela época, eu falei assim “gente, eu nunca tinha parado para pensar nisso, mas muita gente fala em transformação digital, fala do conceito. Mas como que isso está sendo na prática quando a gente olha para esse recorte de manufatura e operação, porque uma coisa é transformação digital de um banco, você pensar em uma jornada para cloud de uma empresa de varejo, uma empresa bancária. Isso é uma coisa. Agora, como é que você olha para esse horizonte de manufatura e operação?”.
Inclusive, Bertaglia, acabei nem comentando isso, depois que eu terminei meu curso de engenharia na PUC, fiz o MBA na FGV com extensão em Ohio, eu estou terminando agora o mestrado na Fundação Dom Cabral e o tema do mestrado é justamente a estratégia de transformação digital nas manufaturas e operações.
Quando a gente olha para isso, nesses últimos anos, você consegue ter excelentes exemplos de transformações na prática, você olha e vê o trabalho que a Nestlé faz, fantástico, na parte de automação, robótica, Indústria 4.0, o que ela fez de exercício aqui no Brasil junto com a Pollux também em aplicações, que a empresa que a Accenture adquiriu no início de 2021, uma empresa de Joinville, Santa Catarina, fantástica também, e aí é algo que serviu de exemplo para a Nestlé do mundo inteiro, você vê o trabalho que é feito também na Mercedes-Benz, então tem aplicações, soluções fantásticas.
E aí, também você fala “Tá, mas está falando de empresas globais”. Tudo bem. Então vamos olhar para empresas que são multinacionais brasileiras. O trabalho que vem sendo feito pela M. Dias Branco, por exemplo, que foi lá construir um roadmap, além de migração de sistemas, ela está fazendo a integração do ERP com o chão de fábrica, já evoluiu na agenda de Indústria 4.0 com algumas outras implementações.
Quando a gente vê o trabalho também de uma outra empresa, você pega a própria Gerdau, Arcelor, o que eles evoluíram nesse sentido. Você tem bastante referência hoje, você consegue tirar de exemplo. “Poxa Boechat, mas será que todas elas estão evoluídas em todos os níveis? Não. Cada um tem um nível de maturidade. Quando você pega o recorte para manutenção, tem empresa que ainda está em uma fase de padronização de plano de manutenção, pensar na manutenção centrada em confiabilidade (RCM) ou manutenção baseada em condução (CBM), já tem empresa que está trabalhando com a questão de manutenção preditiva “Ah, poxa, vou trabalhar com a preditividade do motor ou de algum outro equipamento”, assim como tem uma grande mineradora que a gente está discutindo e trabalhando que é, ela já está em uma fase da manutenção prescritiva depois da preditiva. Então cada empresa está em um nível de maturidade. É importante a gente saber como que a gente consegue apoiar essas indústrias para evoluir nessas grandes transformações.
Bertaglia: Uau, meu amigo, que fantástico! Não pude me acomodar e pensar nesses exemplos que você trouxe, foram realmente exemplos fantásticos e dá para ver, então, que nós estamos navegando, estamos no caminho certo. Boechat, meu amigo, um abraço virtual para você, nós estamos encerrando a nossa prosa aqui. Gratidão enorme pela sua contribuição.
Boechat: Obrigado Bertaglia, obrigado a todos aqui que estão nos assistindo, nos ouvindo. Espero que tenham gostado e fica aqui o meu contato ali no LinkedIn e é só me acessarem. Tem ali meu telefone, e-mail, tudo, fique à vontade.
Bertaglia: Maravilha, meu amigo, ao infinito e além é o que nós fazemos em vida ecoa na eternidade. Um abração, Boechat!